Ensaio D

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Do fim


Ó meu público, meu público!

Este D tem uma vida fora da existência webiana. Ela é sentida através de um estudante de Engenharia. Acho que agora vcs têm certeza de que sou louco. Sandices à parte, um belo triste dia fui fazer prova de Física 1, na chamada Universidade Estadual do Rio de Janeiro. UERJ para os mais chegados. Estes, também devem ter noção da fama de "ponto de alto risco suicida" desta instituição de morte... digo, de ensino. Acontece que o Campus 1 da UERJ tem 12 andares, e qualquer um (reafirmo: QUALQUER UM, desde que esteja calçado e fedendo pouco (mas isso é em qualquer facul pública carioca)) pode entrar lá sem problema nenhum. Daí, o prédio virou um point de suicidas. Sinceramente não sei se a maioria é estudante, acho que deve ser. Fato é que tais ocasiões mórbidas são pouquíssimo detalhadas oficialmente. Escondem informações? Se não, dificultam a divulgação com certeza. Parênteses fechados, voltando ao dia fatídico, quando fui entrar no prédio notei uma área isolada perto da entrada. Não havia nada nela, mas naturalmente havia ocorrido alguma coisa ali. Subi ao 3º e encontrei os companheiros de facul. Curiosidade é foda, já saí perguntando sobre o ocorrido, e me disseram que uma menina havia se suicidado. Só sabiam isso, e, de forma incrivelmente óbvia, estava na cara que não se importavam de saber mais. Uns diziam que era bonita, outros que era estudante, só desencontros enfim. Fiz a prova e se passaram uns dias. Daí encontrei um amigo em algum lugar, onde comentei sobre o caso. Ele disse que aquilo tinha sido foda (estou usando a palavra foda pela 2ª vez, veja que meu nível de nerdice e meu ímpeto aureliano estão baixos hoje).

-Por quê? - indaguei.

- Pô cara... a menina se matou.

Faltou muito pouco para eu responder: "E daí?". Continuou.

- Isso foi uma merda cara.

De fato.

Ó meu público não-suicida!

Estamos em tempos de normalização do fim. Claro, morrer é natural (ainda discutiremos melhor sobre isso), porém alguém se matar é? Se a resposta é sim, então vc matar alguém também é. Não? Pois bem, vamos lá: quantos morreram assassinados em sua cidade ontem? Não sabe? Calma, isso é normal. Ou não?

Ó meu impetuoso público!

O normal ou natural é relativo demais. Alguém ser morto, por um terceiro ou não, e lermos no jornal pode ser normal, ou natural. Mas se fosse um conhecido meu ou seu, ou nosso, já não sei. Então, se não soubermos quem é, é natural? Não lhe julgo, caríssimo! Não sei quantos foram assassinados ontem no Rio. Estamos nos batendo, digo... nos confrontando da maneira mais razoável e racional possível. De D para um ser humano. Onde finalmente quero chegar é o fato de que uma garota morreu e eu fui fazer prova de Física. Mais do que isso, tudo rodou como tinha de rodar, naquele dia na UERJ. Eu não sei quem ela era. Se era alta, magra, bonita, olhos castanhos, estudante de Física Quântica ou uma ilusão da Matrix. O que sei é que não sei nada, e isso me incomoda. Ampliando os horizontes, temo o dia da banalização extrema da vida de cada um de nós, onde um assassinato ou suicídio meu ou seu seria encarado como "normal", posto na zona de memória curta do cérebro. Ela me fez parar a minha vida para pensar nela, e no que a levou a isso. Entenda, não sinto pena dela, sinto medo sobre a minha e a sua aceitação diária do que ocorre à nossa volta. Ela nos fez parar, ao menos por um instante, a rotina do "normal". E eu a amo por isso.

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